Estimulação Cerebral Não Invasiva no Tratamento dos Distúrbios do Movimento
Dr. Fabio Godinho
A Estimulação Magnética Transcraniana (TMS) é um tipo de estimulação cerebral não invasiva usada no tratamento de diversas doenças como a depressão, a enxaqueca e os distúrbios obsessivo-compulsivos. Recentemente, alguns estudos têm demonstrado sua aplicação nos distúrbios do movimento, incluindo a Doença de Parkinson, o Tremor Essencial, as Distonias focais e as Ataxias.
Durante a TMS, um campo magnético é gerado por uma bobina aplicada sobre o couro cabeludo. Este campo altera as propriedades de canais iônicos voltagem-dependentes, modificando os potenciais elétricos de membrana dos neurônios de áreas específicas do córtex cerebral. Através da variação de parâmetros técnicos, envolvendo frequência, intensidade e largura de pulso, a TMS promove a descarga síncrona de potenciais de ação, facilitando ou inibindo redes neurais envolvidas em funções neurológicas ou implicadas em diversos sintomas (processo também conhecido como Neuroplasticidade). Além dos efeitos locais sobre o córtex, os efeitos da TMS ocorrem nos gânglios da base e nas conexões cortico-subcorticais, sedes de disfunções relacionadas a diversos distúrbios dos movimentos. Deste modo, o seu uso está justificado nestas doenças.
O procedimento é indolor e requer diversas sessões (5 a 10), onde numerosos pulsos são repetidos com frequência variando de 1 a 20 Hz, visando obter um efeito cumulativo. Estudos recentes têm utilizado um novo protocolo denominado teta-burst, onde se aplica trens de pulsos com frequência de 50 Hz, visando efeito cumulativo mais rápido e duradouro.
Para o tratamento dos sintomas motores da Doença de Parkinson, a TMS de alta frequência (10 a 20 Hz) sobre a área motora primária trouxe os melhores resultados. No caso da depressão associada à Doença de Parkinson, a TMS do córtex dorsolateral pré-frontal esquerdo trouxe os melhores resultados. Importante salientar que estes benefícios se mostraram muito menos evidentes que aqueles observados após a estimulação cerebral profunda (DBS).
No contexto das Distonias focais, a TMS a baixa frequência do córtex pré-motor trouxe benefício nos pacientes com cãibra do escrivão. Nos demais casos de Distonias focais como na Distonia dos músicos, nas Distonias crânio-cervicais e no Blefaroespasmo, o nível de evidência é insatisfatório na atualidade.
No tratamento do Tremor Essencial, a TMS a baixa frequência do cerebelo (1 Hz) trouxe resultados variáveis, com melhoria variando de 5% a 25%, durando de 5 min a 12 semanas após 10 sessões de tratamento. Finalmente, nos portadores de Síndrome de Tourette, os resultados foram desapontadores após TMS da área motora suplementar. Não há evidência suficiente para os demais alvos nestes pacientes.
Apesar da variabilidade nos resultados descritos na literatura e dos benefícios modestos quando comparados ao DBS, a TMS é uma opção segura para os pacientes com problemas clínicos que contraindiquem a estimulação invasiva. Para estes pacientes, a CINE oferece os mais modernos protocolos de TMS, tornando-se uma clínica com vasto repertório de opções de neuromodulação para os portadores de Distúrbios do Movimento.
Fonte: Godeiro C et al. Use of non-invasive stimulation in movement disorders: a critical review. Arq Neuropsiquiatr. 2021 Jul;79(7):630-646. doi: 10.1590/0004-282X-ANP-2020-0381.